Uso de touchscreens em veículos aumenta a distração, aponta estudo

Entre na maioria dos carros modernos. Ao invés de ver vários mostradores e botões que costumam bagunçar e tornar confuso o painel, é provável que você encontre uma tela sensível ao toque. Em alguns modelos, há mais de uma tela. Algumas, inclusive, maiores que as de um notebook.

Embora as telas sensíveis ao toque forneçam uma maneira conveniente de operar uma infinidade de controles e configurações, pesquisas mais recentes mostram que elas também podem ser distrações perigosas.

Central de controle inteligente de carro da Tesla. Reprodução: internet

Para descobrir como as touchscreens distraem os motoristas, Neale Kinnear e seus colegas do Transport Research Laboratory, uma antiga agência do governo britânico que agora funciona como uma instalação de teste independente, organizaram uma série de experimentos. Eles recrutaram dois grupos de 20 motoristas. Um consistia em usuários regulares do Android Auto, do Google, um aplicativo popular de informação e entretenimento que permite que os motoristas interajam com seus telefones através da tela de toque de um carro. Os outros eram partidários do principal rival do Android Auto, o Apple CarPlay.

Android Auto em modelo da BMW. Reprodução/Divulgação: Google

Cada participante concluiu três viagens de 15 minutos ao longo de uma rota virtual definida no sofisticado simulador de direção do laboratório. Em uma dessas viagens, eles tiveram que realizar tarefas usando apenas a tela sensível ao toque. Essas tarefas incluíam navegar para um restaurante, tocar uma música específica no Spotify, mudar os canais de rádio, fazer com que o sistema lesse uma mensagem de texto e fazer uma ligação telefônica sem usar as mãos. Na segunda viagem, eles tiveram que fazer o mesmo, mas usando apenas os controles ativados por voz do carro. A terceira jornada foi o controle do carro, sem tarefas atribuídas.

Sempre que uma barra vermelha brilhava no para-brisa, os pesquisadores mediam quanto tempo o motorista levava para puxar a haste do indicador que pisca as luzes do carro. Como eles esperavam, os motoristas que usavam controles de toque na tela levavam mais tempo para responder à barra piscante do que aqueles que usavam controles de voz. Embora a diferença possa ser inferior a um segundo, nas velocidades das estradas, isso resultaria em uma distância de freagem aumentada de até 25 metros.

A surpresa veio com o tempo que a atenção dos motoristas foi desviada pelas séries de olhares necessários para operar a tela. Entre os piores resultados, houve uma média de 20 segundos de olhares cumulativos usando o Android Auto para tocar uma música no Spotify e de 16 segundos para configurar a rota para um restaurante com o CarPlay, da Apple. Para comandos de voz, esses meios caíram para quatro e três segundos, respectivamente.

Os pesquisadores calcularam que os tempos de reação à barra vermelha quando a tela sensível ao toque estava sendo empregada eram cerca de 50% mais longos do que o padrão para algumas tarefas. Esse resultado foi pior do que o comprometimento de 46% encontrado em um estudo anterior em simulador, que analisou os efeitos do uso de um telefone celular durante a direção de um carro, o que é proibido em muitos países.

Diversos órgãos de trânsito impõem restrições ao uso de touchscreens em carros. A America’s National Highway Traffic Safety Administration (Administração Nacional de Segurança no Trânsito e Rodovias dos Estados Unidos), por exemplo, diz que as tarefas em telas sensíveis ao toque devem ser concluídas em dois segundos ou menos, com um tempo acumulado inferior a 12 segundos.

Os pesquisadores acreditam que a ativação por voz é uma alternativa mais segura e que deve ser incentivada, embora esses softwares precisem ser aprimorados. Andy Peart, da Artificial Solutions, uma empresa sueca que desenvolve reconhecimento de voz assistido por inteligência artificial, concorda. Outro problema é que os comandos falados geralmente têm várias intenções, como pedir para aumentar a temperatura e tocar uma música, na mesma frase falada. Esse tipo de comando mais complexo ainda não é suportado por maioria desses sistemas.

A migração dos controles tradicionais do veículo para as touchscreens também gerou queixas sobre os tempos de reação das máquinas. Em abril, depois de examinar as telas sensíveis ao toque em veículos novos, a What Car?, revista britânica de automóveis, informou que o ajuste do ventilador do aquecedor pode demorar duas vezes mais para ser acionado usando uma tela sensível ao toque ao invés de um botão físico. Já selecionar uma nova estação de rádio leva oito vezes mais.

As montadoras já trabalham no desenvolvimento de telas que possuem maior facilidade de operação, posicionando-as de acordo com a visão do motorista da estrada. O feedback tátil, que adiciona respostas físicas e táteis, também está chegando. Ele serve, por exemplo, para detectar um dedo em movimento e produzir um som de clique e uma leve vibração quando um botão virtual na tela é pressionado. Apesar das novas tecnologias, muitos motoristas ainda preferem que seus carros venham com botões reais, em especial motoristas mais velhos.


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